Pantanal: Beleza nos confins do Brasil
Mais que uma estrada, uma lenda!
Mais que uma estrada, uma lenda! A Transpantaneira, com seus 147 rústicos quilômetros, povoa o imaginário de 10 entre 10 viajantes como um obstáculo a ser vencido. E não poderia ser diferente para nós, Glória Tupinambás e Renato Weil, turistas profissionais e repórteres d’ A Casa Nômade! As 120 pontes da Transpantaneira rangem, estalam e envergam com o peso do nosso motorhome; a terra avermelhada se apresenta ora em nuvens de poeira, ora em assustadoras poças de barro; e as suas margens são uma viagem à parte. Por ali desfilam famosos personagens pantaneiros.
Portanto, prepare-se para o esquema: luz, câmera, ação! O Pantanal se apresenta de maneira cinematográfica aos visitantes. O tuiuiú mergulha seu longo bico na água e devora uma piranha. O gavião faz um voo magistral e captura sua presa com a elegância digna de uma bailarina. A garça-baguari, aparentemente inofensiva, avista peixes a metros de distância e mostra suas garras para matar a fome. A ariranha vigia sorrateira o seu território. Tucanos disputam espaço com pássaros menores nas árvores. Antas e capivaras pastam tranquilas com seus filhotes. E o jacaré…. ah, o rei do Pantanal mostra os dentes sem pudor, emite um som gutural (o esturro) para atrair as fêmeas e, entre um ataque e outro aos peixes, revela que até ele tem seu ponto fraco: sanguessugas incrustadas no céu da boca. Tudo isso a poucos metros de nós, que parecemos passar despercebidos aos olhos dos animais selvagens.
A viagem pela Transpantaneira ofereceu para nós, d’A Casa Nômade, uma surpresa a cada quilômetro. No trecho entre Poconé e Porto Jofre, nos confins do estado de Mato Grosso, foram várias freadas bruscas ao nos depararmos com animais selvagens à nossa frente; os ouvidos sempre ficaram atentos para curtir a sinfonia dos pássaros; e viajamos por ali sem nenhuma pressa. Outro ingrediente fundamental para o passeio foi a nossa disposição. O nascer e o pôr-do-sol foram espetáculos garantidos. Nos horários de pico do calor (entre 11h e 14h), valeu pegar a estrada para flagrar o banho de sol dos jacarés. À noite, o safári fotográfico rendeu lindos cliques…
Textos e fotos: Glória Tupinambás e Renato Weil / A Casa Nômade
A Cárcere do Fim do Mundo
A Ilha dos Estados é a última perna da Cordilheiras dos Andes e pertence a Argentina. Foi lá, em San Juan del Salvamento, que funcionou até 1889 uma espécie de colônia penal aos militares acusados de assassinato.
Suas paredes tem mais de 60cm de espessura. O vento gelado que penetra pelas janelas quebradas corta o saguão. Um odor fétido atesta a autenticidade do lugar. Outros pavilhões já estão reformados e expõe peças pertencente ao Museo Marítimo y del Presidio, mas este, intacto, ainda tem o silêncio ensurdecedor e o chão sujo. Nada mudou em quase 70 anos na prisão do fim mundo.
Não existem relatos de uma única fuga exitosa. Bem por isso, essa foi considerada a prisão mais efetiva do mundo. Alcatraz ficou para trás. Várias tentativas de fugas ocorreram por aqui, embora pouquíssimas bem sucedidas. Escapar do presídio em si não era tarefa muito difícil já que os detentos passavam horas fora da cárcere realizando diversas atividades, mas uma vez do lado de fora, não havia para onde ir. Sem comida, com frio e impossibilitados de acender uma fogueira – a qual o iria denunciar -, o fugitivo acabava por voltar com o rabo entre as pernas e pedir desculpas pela evasão. Na maioria das vezes o pedido de desculpas era aceito, e posteriormente era acompanhado por uma bala. Um a menos.
Em 1884, dois anos após o tratado de fronteira com o Chile, Ushuaia e o Governo da Província da Terra do Fogo foram fundados, embora ainda sem qualquer habitante. Foi necessária então uma manobra de colonização para garantir a soberania do território. Mas quem, por livre e espontânea vontade, tomaria o rumo para um lugar tão inóspito e desértico? Você acertou, prisioneiros. Resolver o défice de prisão existente no país e ainda garantir que os chilenos não fossem tocar as terras celestes ao sul era matar dois coelhos com uma cajadada só. Bingo!
A Ilha dos Estados é a última perna da Cordilheiras dos Andes e pertence a Argentina. Foi lá, em San Juan del Salvamento, que funcionou até 1889 uma espécie de colônia penal aos militares acusados de assassinato. O clima e o afastamento fizeram daquela ilha inabitável e a situação era insustentável. Em 1902, tomou-se a decisão de trazer a prisão para a Bahia Golondrina. Nascia, dessa vez pra valer, Ushuaia.
Foram 18 anos para que o edifício estivesse pronto. Os próprios detentos foram os responsáveis pela construção, pedra por pedra. A prisão de Ushuaia era um caixote para onde iriam parar todos os estrangeiros, reincidentes ou qualquer um mal comportado que fosse julgado digno de uma estadia na “terra maldita”. Durante um bom tempo, essa foi a ameaça comum a todos encarcerados. “Seja bonzinho, ou vamos te colocar de castigo mais próximo da Antártida do que da sua família”.
Os prisioneiros eram tratados como animais e receberam punições que muitas vezes pagaram com a vida. Uma vez por aqui, não se sabia por quanto tempo ficariam. O único meio de comunicação com a família eram cartas, censuradas e lidas por carcereiros. Digamos que uma boa parte acabava em uma fogueira. Não havia regras e as sanções internas e punições eram regidas pelo bom humor diário do guarda de plantão.
A prisão acabou por tornar-se o motor econômico da ilha. Foram os presos que, em suas tarefas diárias, construíram toda infra-estrutura pública. Estradas, pontes, cais, casas, instalação de rede de água, iluminação pública e a manutenção de tudo isso. Basicamente, as bases da cidade de Ushuaia foram erguidas pelo suor dos condenados.
Logo a cárcere se tornaria também o principal fornecedor da população com serviços como padaria, sapataria, alfaiataria e fábrica de macarrão.
O paraíso das hordas de turistas caçadores de nevascas de hoje é resultado do trabalho duro de milhares de pijamas listrados encarcerados como cães nos confins da Terra.
Sentado à mesa comunitária do hostel onde vivo, diferentes idiomas se cruzam. Costumo brincar que vivemos na cárcere do fim do mundo junto aos outros não turistas. Brasileiros, colombianos, venezuelanos, espanhóis e argentinos de todos os lados vivem por aqui. Somos quase uma família erradicada.
Há poucos viajantes nessa época do ano. Propositadamente ou não, nós os marginalizamos frente à ausência de um diálogo genuíno. Em suas companhias nos colocamos à mercê da frivolidade comportamental. O ritmo e ímpeto de quem vive por aqui bate distinto. E penso que sempre foi assim.
Eu nunca quis vir a Ushuaia. Aconteceu.
Assim como na maioria esmagadora das vezes, foi enquanto planejava um caminho que a vida tratou de recalcular a rota e me enviou a outro lado.
Ushuaia é sempre o fim de uma longa história; seja para corações combalidos, mentes criminosas ou almas que anseiam por esperança. A nova “El Dorado” de caça tesouros desafortunados que chegam em remessas. Possivelmente se irão com bolsos aindas mais vazios. Uma terra de estrangeiros, onde fueguinos são fotografados como objetos raros sob olhares de descrença. Um santuário de redenção, paz, cifras. Muito provavelmente mais do que uma pausa, um recomeço para uma vida.
Em algum lugar, todos já demonstrávamos desgaste, embora todos pareçam não querer assumir essa realidade. De modo que a estadia em Ushuaia, a princípio, pode servir de pretexto para uma fuga. Cada personagem, a seu modo, busca uma saída, um atalho como antídoto às incompatibilidades que o trouxe ao fim da linha.
Durante mais de 40 anos, detentos foram enviados para o fim do mundo para ocupar e erguer uma cidade. Quase 70 anos depois, eu cheguei para dar continuidade ao seu trabalho. Dessa vez não fui obrigado a nada, mas as circunstâncias e as imensas promessas dessa terra fizeram o trabalho de auto eleger esse lugar.
Ushuaia continua a ser uma cidade construída a base do sacrifício e esperança das pessoas. Os pijamas listrados em azul e amarelo apenas deram lugar a outros trajes. Durante um período, aqueles que já não se adequam a outras realidades ou almejam uma nova vida acabam por aportar aqui. Ushuaia é um recomeço. Um porto seguro que abre facilmente os braços para novos membros da “família”. Uma terra de todos.
Sentado no terceiro vagão, vou percorrer os últimos 7 quilômetros do caminhos dos presos, aberto para captação de madeira e pedras. Vou adentrar o Parque Nacional Tierra del Fuego embarcado no Trem do Fim do Mundo.
Assim como eu, o guia do trem, que a propósito divide o mesmo quarto comigo no hostel, não tem raíz alguma na região. Ele é apenas outro forasteiro que veio “tocar” Ushuaia. Fazemos graça imitando os antigos presidiários subindo ao trem.
Eu ainda não havia notado que na verdade tínhamos mais semelhanças com aqueles detentos do que poderíamos supor à primeira vista.
Meliponário Macboot
Para o projeto, espécies do grupo Melipona e Trigona, irão contribuir com a polinização e a educação ambiental que será apresentado pela Macboot.
A Macboot iniciou um projeto de meliponário, que tem como objetivo criar abelhas nativas sem ferrão, e mostrar para todos como esses animais são importantes para a polinização e o bom funcionamento do meio ambiente.
A polinização é um grande fator que as espécies nativas podem apresentar, principalmente em estufas fechadas, de vegetais e frutas. Como não utilizam de seu ferrão, podem ser usadas com segurança na polinização dos ambientes fechados. Alguns vegetais necessitam que durante a coleta de alimento dessas abelhas, ela exerça movimentos vibratórios, para que assim o pólen seja liberado. Esse comportamento é visto constantemente em espécies de abelhas sem ferrão.
Em uma segunda etapa, após o término do processo de implantação do meliponário, a Macboot vai iniciar um trabalho de educação ambiental. A ideia é receber a visita de pessoas interessadas em conhecer melhor o processo de criação das abelhas e seus benefícios e levar caixas de abelha, devidamente preparadas, para apresentação em escolas públicas e particulares.
Sobre as abelhas
As abelhas nativas, mais conhecidas como abelhas sem ferrão, possuem na verdade um ferrão atrofiado, que impossibilita a utilização dele como defesa. Algumas das espécies de abelhas nativas não são agressivas, e por isso apresentam fácil manuseio. São produtoras de mel e pólen, mas em escala menor do que as abelhas com ferrão (Apis melífera).
Para o projeto, espécies do grupo Melipona e Trigona, irão contribuir com a polinização e a educação ambiental que será apresentado pela Macboot.
Texto por: Lucas Melo Silva
Fotografia: Rafa Mendes
Brasil Motorcycle Show
A Macboot esteve presente no Brasil Motorcycle Show
O Brasil Motorcycle Show é considerado um dos principais eventos do segmento no Brasil. Neste ano ele aconteceu nos dias 7, 8 e 9 em Curitiba PR. A MacBoot esteve presente apresentando todas as novidades da nova coleção é também enfatizando a importância da Sustentabilidade e preservação da natureza através da distribuição de mudas e sementes.
Veja a nossa galeria de fotos:
Cavernas de gelo
Entre erradicados e mochileiros, contabilizamos dez escoteiros. Brasileiros, argentinos e um franco guianense (?) – admito que não faço a mínima ideia sobre como me referir a alguém que nasceu na Guiana Francesa.
Ao alcance das mãos estão paredes lisas e geladas. Impossível calcular a espessura. Em meio ao gelo, pedras parecem flutuar e bolhas de ar estão presas pela eternidade. Há quanto tempo aquelas bolhas de ar se formaram? Talvez centenas, milhares de anos. Provavelmente muito antes do primeiro homem pisar na Patagônia. Eu estou numa caverna de gelo, sob o Glaciar Vinciguerra, escondido em meio às montanhas de Ushuaia.
Depois de passar o inverno à base de poucas horas de luz, os dias finalmente tem se tornado mais longos e, digamos, já não é tarefa difícil reunir meia dúzia de “bandeirantes”. Estivemos por muito tempo enfurnados vendo o sol surgir próximo às dez horas da manhã. Então lançar a ideia de um trekking no momento do café da manhã é como pescar com dinamite.
Entre erradicados e mochileiros, contabilizamos dez escoteiros. Brasileiros, argentinos e um franco guianense (?) – admito que não faço a mínima ideia sobre como me referir a alguém que nasceu na Guiana Francesa.
Não levamos crampones. A neve já deveria estar reduzida, acho. Em nossas mochilas apenas câmeras, sanduíches e, no meu caso, uma cerveja escondida. O tal glaciar milenar funcionará hoje como minha geladeira particular no teto da Terra do Fogo.
Nunca formulei um conceito, mas estabeleci involuntariamente uma convicção sobre existirem determinadas regiões no mundo com mais “magia” do que outras. Com isso quero dizer que provavelmente alguns lugares terão comigo uma relação secreta entre a natureza e minha mente. Algo visceral, que foge a explicações. E como qualquer romântico, acabo por ter uma vaga sensação de que em alguns momentos da minha vida entrarei em lugares mágicos que, revelando-me seus segredos, me darão a sabedoria e êxtase.
Eu ainda não sabia que encontraria esse tipo de sentimento abaixo de toneladas de gelo, mas tinha certeza do quanto estava animado para o trekking enquanto abria a porteira no final da estrada de barro que dá acesso a um turbal. Eu não sei se você já caminhou por esse tipo de terreno ou não, mas a sensação é estar sobre colchões novos.
Passando a ponte e cruzando um riacho, o cartel de entrada marca que são poucos quilômetros de trilha. Poucos, porém de subida. Adentramos aos bosque de lengas – árvores típicas da Patagônia -, e os raios solares ganham as silhuetas das frestas entre as copas. Como sempre, fumantes são os primeiros a pedir calma e um tempo para descansar e “apreciar” a paisagem. Não se trata de uma competição, mas figurar entre os últimos e com menos fôlego vale de exemplo e reflexão.
Conforme ganhamos altura, finalmente a neve aparece. Junto dela os tombos dos mais apressados. É nesse momento em que a GoPro passa a ficar ligada o tempo todo na esperança de captar alguma cena que será repetida incansavelmente durante o jantar.
Saindo dos bosques, um recesso para os joelhos em um campo aberto plano. É indiscutível o quão sortudos somos por estar ao menos uma vez na vida caminhando por um lugar como aquele. Eu já me declarei a Patagônia um milhão de vezes, posso fazer mais uma vez. Aqui habitam manifestações incríveis de beleza natural. Da sensação de paz à apreciação da finitude. Um chamado para uma beleza silenciosa e serena, impalpável, onde a vida continua, apesar de parecer que o tempo e o espaço esqueceram sua própria função. Um caminho tocado apenas por aqueles que, como nós, deseja manter tudo como está, minimizando ao máximo sua passagem pelo lugar. É como voltar ao passado e tomar para si os sentimentos de realização que os primeiros exploradores obtiveram.
Uma última subida. Íngreme. Na neve. As botas se afundam no gelo e finalmente entendo como seria adequado as – antes desprezadas – raquetes de neve nessa travessia. Nosso conforto é que, para a volta, bastará improvisar um esquibunda. Ninguém sabia, ou os que sabiam não quiseram fazer nenhum alarde, é que passava um rio de gelo bem abaixo dos nossos pés. Águas de uma laguna proveniente de um glaciar, provavelmente uma camada de gelo, neve e logo nós cantarolando bem acima. Meus pais não irão gostar deste trecho. Se esse fosse um filme dramático, é nesse momento em que as coisas ficariam bem complicadas.
É final de setembro e a Laguna de los Tempanos ainda não resolveu dar as caras. Em seu lugar, uma imensidão coberta de branco, vagamente azulada, e nenhum pedaço de gelo flutuante. Frustrante? Não. Se existe alguma cota de lagunas paradisíacas por pessoa na vida, eu já extrapolei há muito tempo durante o outono em El Chaltén. Dessa vez eu estava interessado justamente nas cavernas de gelo. Quantas vezes mais na vida eu poderei estar em um lugar assim?
Contornando o que imaginávamos ser a borda da laguna, o fim da linha é um túnel escuro, inóspito e, de longe, pouco convidativo. Poderia sair um dinossauro daquele lugar e não seria surpresa.
Artesãos de Murano iriam proferir críticas, provavelmente enciumados. Uma verdadeira catedral esculpida pelo tempo e pelas mãos da senhora mãe natureza. Gelos contornam as paredes com formas irregulares. A pouca luz que ultrapassa as camadas dá um tom azulado, por vezes verde, e transforma tudo em um mar. Um mar de séculos, onde rochas e poeira estão presas a sabe lá Deus há quanto tempo. Bolhas de ar que estão lá desde muito antes o homem sequer pensar em rumar para um local tão extremo. Cápsulas do tempo cravadas no gelo. O chão é liso, fácil de cair, e mesmo assim ninguém parece ligar muito. A cada 15 segundos alguém grita algo no estilo “vocês precisam ver isso”. Palavrões, de todos os tipos, mas dedicados a surpresa e espanto. Somos crianças em nossa primeira feira de ciências. Finalmente estamos sob as covas de gelo.
Enquanto alguns perambulam sobre o glaciar e suas cavernas como pequenas formigas em um formigueiro gigante, eu me sento satisfeito. Costumo prestar atenção no silêncio e na falta de diálogo que habitam lugares como esse. Talvez seja essa a tal magia do lugar. A mescla de espanto e paz, permitindo apenas me deixar levar pelas imagens.
Essa é, no final, a melhor parte desse tipo de aventura.
Hora de abrir a minha cerveja.
Glaciar Vinciguerra, Ushuaia.
Texto e fotos por: Guilherme Hoefelmann