Onze anos depois, A Casa Nômade está de volta a Montevidéu. A capital do Uruguai foi o destino da nossa primeira viagem internacional juntos. São tantas lembranças boas e paixão por esse lugar, que confessamos que havia até um certo receio em retornar aqui, por medo de quebrar o encanto.
Bobagem nossa! A terra de Mujica nos conquistou mais uma vez! Um Centro Histórico lindo e muito bem conservado, imponentes prédios e palácios, a educação dos uruguaios, as deliciosas parrillas, museus… tudo que vamos reunir aqui em ótimas dicas para a sua viagem.
Para começar o passeio, nada melhor que um guia que fala um bom e claro português. Sérgio Santana, o guia que está à frente da empresa Bem-Vindo Brasileiros, leva a uma deliciosa visita guiada pelas ruas da Cidade Velha, acrescentando curiosidades e dados que permitem enxergar Montevidéu com outros olhos.
O “walking tour” começa no principal marco da cidade, a Plaza Independencia, onde estão prédios emblemáticos como o Palácio Salvo, a Casa de Gobierno, a atual Presidência da República e o Mausoléu do General Artigas, o herói nacional.
O passeio segue pelo calçadão Sarandi, passa pelo Teatro Solis e pela Catedral de Montevidéu, faz uma parada para provar um delicioso alfajor no Boutique de Chocolate Volveras a Mi e termina no Mercado del Puerto, onde as labaredas das parrillas parecem acender o apetite para devorar as suculentas carnes uruguaias.
Para evitar rasteiras do portunhol, nossa dica para quem quer experimentar um típico churrasco uruguaio é jamais pedir uma “parrillada”. Apesar de ser assada na parrilla, esse prato não tem nada de carnes nobres. São apenas miúdos, chouriços e partes menos gostosas…. Portanto, fica a dica!
Depois de saciar o apetite, hora de bater perna novamente para explorar outro canto da cidade, o Bairro Aguada, onde está o lindo Palácio Legislativo. Além da fachada monumental com bandeiras sempre agitadas pelo vento, o prédio tem visita guiada interna para explicar mais sobre a história política do país. Nas vizinhanças do palácio, uma decepção: o Mercado Agrícola de Montevidéu (MAM), super elogiado pelos guias de turismo, mas com ares de shopping center que lhe roubam charme e encanto.
Dica de hospedagem: quer um lugar descolado, super bem localizado, com funcionários fluentes em português, inglês, francês e alemão? A melhor pedida é o Rambler Hostel, com preço acessível e ótimo ambiente.
Dentro do óbvio e maravilhoso Centro Histórico de Montevidéu, destacamos duas atrações um pouco menos badaladas, mas que nos encantaram: o Palácio Taranco, que sedia o Museu de Artes Decorativas; e o Centro de Fotografia.
O Palácio Taranco está situado em lugar estratégico dentro da Cidade Velha e começou a ser construído por ordem do Rei da Espanha, Felipe V, em 1724. Depois de anos de abandono e ter parte da estrutura demolida, o terreno foi comprado pelos irmãos Ortiz de Taranco, em 1908, para erguerem ali a sua residência com projeto arquitetônico dos franceses Charles Louis Girault e Jules Léon Chifflot (arquitetos do Arco do Triunfo, do Petit Palais de Paris e da Embaixada da França em Viena). Com fachada e decoração interior em estilo eclético, o palácio é repleto de esculturas de bronze, mobiliário típico do período de Louis XV e XVI, pisos de carvalho de Versailles e peças de mármore italiano.
Com a morte de Félix Ortiz de Taranco em 1940, a família decide vender a residência e todo o mobiliário (com mais de duas mil peças) ao Estado, com a condição de que o espaço fosse transformado no atual Museu de Artes Decorativas. Uma atração gratuita que merece uma visita bem calma, com tempo para se maravilhar diante de cada detalhe.
O segundo achado dessa nossa visita a Montevidéu foi o Centro de Fotografia, dono de um rico acervo de imagens sobre a construção da capital uruguaia. Além das mostras permanentes, há exposições temporárias interessantíssimas, como a Ausências, sobre vítimas de desaparecimento durante o nebuloso período da ditadura militar; e a Vademecum, um curioso olhar sobre o uso de medicamentos por pessoas das mais variadas idades.
A comida no Uruguai é uma arte. E listamos aqui os três restaurantes (nos mais variados estilos e preços) que mais nos encantaram em Montevidéu;
Francis Restaurant
Desde a educação e gentileza do proprietário Alberto Latarowski ao responder os e-mails de reserva de cada cliente até a incrível sobremesa, tudo nos pareceu impecável no Francis Restaurant. Bem distante do Centro Histórico de Montevidéu, a unidade Carrasco da casa atrai um fiel público brasileiro. E a opção mais pedida por nossos conterrâneos lá é um menu degustação de sete passos, que oferece uma ótima oportunidade de provar vários pratos da casa, mesclando peixes, frutos do mar, massas e carnes em um só jantar. A melhor parte é a sobremesa: mousse de doce de leite com amêndoas e chocolate.
Tandory Restaurant
Uma viagem pelas cozinhas do mundo com pratos típicos das Américas, Europa e Ásia… Essa é a ousada proposta do Tandory, coordenado pelo extrovertido chef Gabriel Coquel, e que se desponta como um dos mais conceituados de Montevidéu. Durante o dia, Gabriel se dedica ao preparo dos ingredientes e, à noite, circula pelo salão, conversa com os clientes, apresenta a adega, sugere pratos e, aos mais curiosos, conta suas histórias de viajante e de cada souvenir que enfeita as paredes do Tandory. Fugindo completamente da tradicional parrilla uruguaia, Gabriel faz os clientes viajar com suas iguarias.
Restaurante Primuseum
Mais de 300 fogareiros a querosene da marca sueca Primus enfeitam as paredes de um casarão datado de 1870, no Centro Histórico de Montevidéu, e servem de inspiração para o nome do Restaurante Primuseum. As peças, colecionadas por mais de três décadas por Aldo Mazzoni, fazem parte de um rico acervo de antiguidades que hoje enchem de charme o restaurante comandado por seu filho, Santiago.
Mas não pense que a decoração é o único atrativo do local. Todas as noites, o Primuseum recebe um maravilhoso show de tango e, ao som de clássicos de Carlos Gardel e outros ícones da música disputada entre uruguaios e argentinos, um grupo seleto de clientes tem a oportunidade de provar pratos incríveis.
Pelo interior do Uruguai…
Bodega Bouza
A adega em formato de capela abriga um verdadeiro templo do vinho no Uruguai: a Bodega Bouza. A vinícola, um empreendimento familiar nos arredores de Montevidéu, preza pela qualidade em uma produção de pequena escala e, apesar de o primeiro vinho ter sido lançado há apenas quatro anos, sobram premiações e reconhecimentos internacionais.
Com 33 hectares de vinhedos espalhados por três regiões uruguaias, a Bodega Bouza produz 130 mil garrafas de vinho por ano de cinco variedades (os brancos Albariño e Chardonnay, e os tintos Tannat, Merlot e Tempranillo). A colheita da uva acontece entre os meses de fevereiro e março e, dos oito quilos de uva produzidos em média por cada planta, apenas dois quilos são selecionados para a produção do vinho. Os outros seis quilos são sacrificados para virarem adubo e permitirem um crescimento mais expressivo dos outros frutos.
O modo de fabricação artesanal do vinho e todas as curiosidades do processo podem ser conhecidos em uma interessante visita guiada à vinícola. E, depois de passear por entre as plantações, laboratórios de fermentação e adega, vem a melhor hora! Degustar os vinhos harmonizados com pratos típicos da culinária uruguaia.
Colônia del Sacramento
Fundada pela Coroa Portuguesa em 1680 e alvo de disputas entre espanhóis e lusitanos por quase 100 anos, Colônia del Sacramento foi tombada pela Unesco como Patrimônio da Humanidade e é um destino obrigatório para quem visita o Uruguai. Com um lindo casario histórico, ruas e becos calçados de pedra e um pôr-do-sol incrível nas margens do Rio da Prata, Colônia encanta e surpreende.
Sua rua mais famosa, a Calle de Los Suspiros (onde funcionavam casas de prostituição), é o ponto de partida para uma viagem à história da cidade. Dali, chega-se às ruínas da antiga muralha que cercavam o vilarejo, com canhões e um imenso portão. Na Plaza Mayor, shows de tango e apresentações culturais ocupam o espaço já usado para comércio de escravos, algodão e açúcar trazidos do Brasil. O farol e vários museus contam sobre a importância estratégica de Colônia como ponto de acesso a Buenos Aires (localizada na outra margem do Rio da Prata).
O passeio continua nos arredores da cidade, até chegar ao Complexo Turístico Real de San Carlos, erguido por um visionário argentino em 1908 com Praça de Touros, Cassino, Hotel e uma capela.
E, no caminho, a melhor pedida é esquentar o corpo com um chocolate quente típico do Uruguai: o submarino. Na La Beduina Deli & Café, a bebida é muito bem acompanhada por uma torta de chocolate meio amargo ou um bolo de cenoura e nozes, num ambiente moderno, descontraído e com decoração de muito bom gosto.
Last modified: 19 de abril de 2018