por

Cavernas de gelo

Entre erradicados e mochileiros, contabilizamos dez escoteiros. Brasileiros, argentinos e um franco guianense (?) – admito que não faço a mínima ideia sobre como me referir a alguém que nasceu na Guiana Francesa.

Ao alcance das mãos estão paredes lisas e geladas. Impossível calcular a espessura. Em meio ao gelo, pedras parecem flutuar e bolhas de ar estão presas pela eternidade. Há quanto tempo aquelas bolhas de ar se formaram? Talvez centenas, milhares de anos. Provavelmente muito antes do primeiro homem pisar na Patagônia. Eu estou numa caverna de gelo, sob o Glaciar Vinciguerra, escondido em meio às montanhas de Ushuaia.

Depois de passar o inverno à base de poucas horas de luz, os dias finalmente tem se tornado mais longos e, digamos, já não é tarefa difícil reunir meia dúzia de “bandeirantes”. Estivemos por muito tempo enfurnados vendo o sol surgir próximo às dez horas da manhã. Então lançar a ideia de um trekking no momento do café da manhã é como pescar com dinamite.
Entre erradicados e mochileiros, contabilizamos dez escoteiros. Brasileiros, argentinos e um franco guianense (?) – admito que não faço a mínima ideia sobre como me referir a alguém que nasceu na Guiana Francesa.

Não levamos crampones. A neve já deveria estar reduzida, acho. Em nossas mochilas apenas câmeras, sanduíches e, no meu caso, uma cerveja escondida. O tal glaciar milenar funcionará hoje como minha geladeira particular no teto da Terra do Fogo.

Nunca formulei um conceito, mas estabeleci involuntariamente uma convicção sobre existirem determinadas regiões no mundo com mais “magia” do que outras. Com isso quero dizer que provavelmente alguns lugares terão comigo uma relação secreta entre a natureza e minha mente. Algo visceral, que foge a explicações. E como qualquer romântico, acabo por ter uma vaga sensação de que em alguns momentos da minha vida entrarei em lugares mágicos que, revelando-me seus segredos, me darão a sabedoria e êxtase.

Eu ainda não sabia que encontraria esse tipo de sentimento abaixo de toneladas de gelo, mas tinha certeza do quanto estava animado para o trekking enquanto abria a porteira no final da estrada de barro que dá acesso a um turbal. Eu não sei se você já caminhou por esse tipo de terreno ou não, mas a sensação é estar sobre colchões novos.


Passando a ponte e cruzando um riacho, o cartel de entrada marca que são poucos quilômetros de trilha. Poucos, porém de subida. Adentramos aos bosque de lengas – árvores típicas da Patagônia -, e os raios solares ganham as silhuetas das frestas entre as copas. Como sempre, fumantes são os primeiros a pedir calma e um tempo para descansar e “apreciar” a paisagem. Não se trata de uma competição, mas figurar entre os últimos e com menos fôlego vale de exemplo e reflexão.

Conforme ganhamos altura, finalmente a neve aparece. Junto dela os tombos dos mais apressados. É nesse momento em que a GoPro passa a ficar ligada o tempo todo na esperança de captar alguma cena que será repetida incansavelmente durante o jantar.

Saindo dos bosques, um recesso para os joelhos em um campo aberto plano. É indiscutível o quão sortudos somos por estar ao menos uma vez na vida caminhando por um lugar como aquele. Eu já me declarei a Patagônia um milhão de vezes, posso fazer mais uma vez. Aqui habitam manifestações incríveis de beleza natural. Da sensação de paz à apreciação da finitude. Um chamado para uma beleza silenciosa e serena, impalpável, onde a vida continua, apesar de parecer que o tempo e o espaço esqueceram sua própria função. Um caminho tocado apenas por aqueles que, como nós, deseja manter tudo como está, minimizando ao máximo sua passagem pelo lugar. É como voltar ao passado e tomar para si os sentimentos de realização que os primeiros exploradores obtiveram.

Uma última subida. Íngreme. Na neve. As botas se afundam no gelo e finalmente entendo como seria adequado as – antes desprezadas – raquetes de neve nessa travessia. Nosso conforto é que, para a volta, bastará improvisar um esquibunda. Ninguém sabia, ou os que sabiam não quiseram fazer nenhum alarde, é que passava um rio de gelo bem abaixo dos nossos pés. Águas de uma laguna proveniente de um glaciar, provavelmente uma camada de gelo, neve e logo nós cantarolando bem acima. Meus pais não irão gostar deste trecho. Se esse fosse um filme dramático, é nesse momento em que as coisas ficariam bem complicadas.

É final de setembro e a Laguna de los Tempanos ainda não resolveu dar as caras. Em seu lugar, uma imensidão coberta de branco, vagamente azulada, e nenhum pedaço de gelo flutuante. Frustrante? Não. Se existe alguma cota de lagunas paradisíacas por pessoa na vida, eu já extrapolei há muito tempo durante o outono em El Chaltén. Dessa vez eu estava interessado justamente nas cavernas de gelo. Quantas vezes mais na vida eu poderei estar em um lugar assim?

Contornando o que imaginávamos ser a borda da laguna, o fim da linha é um túnel escuro, inóspito e, de longe, pouco convidativo. Poderia sair um dinossauro daquele lugar e não seria surpresa.

Artesãos de Murano iriam proferir críticas, provavelmente enciumados. Uma verdadeira catedral esculpida pelo tempo e pelas mãos da senhora mãe natureza. Gelos contornam as paredes com formas irregulares. A pouca luz que ultrapassa as camadas dá um tom azulado, por vezes verde, e transforma tudo em um mar. Um mar de séculos, onde rochas e poeira estão presas a sabe lá Deus há quanto tempo. Bolhas de ar que estão lá desde muito antes o homem sequer pensar em rumar para um local tão extremo. Cápsulas do tempo cravadas no gelo. O chão é liso, fácil de cair, e mesmo assim ninguém parece ligar muito. A cada 15 segundos alguém grita algo no estilo “vocês precisam ver isso”. Palavrões, de todos os tipos, mas dedicados a surpresa e espanto. Somos crianças em nossa primeira feira de ciências. Finalmente estamos sob as covas de gelo.

Enquanto alguns perambulam sobre o glaciar e suas cavernas como pequenas formigas em um formigueiro gigante, eu me sento satisfeito. Costumo prestar atenção no silêncio e na falta de diálogo que habitam lugares como esse. Talvez seja essa a tal magia do lugar. A mescla de espanto e paz, permitindo apenas me deixar levar pelas imagens.

Essa é, no final, a melhor parte desse tipo de aventura.

Hora de abrir a minha cerveja.

Glaciar Vinciguerra, Ushuaia.

Texto e fotos por: Guilherme Hoefelmann

Leia Mais →

por

Carretroller & Macboot – Por um mundo melhor

Projeto Herdeiros do Futuro – Apoiado pela Macboot

Há quatro anos atrás surgia na cidade de Franca o projeto Herdeiros do Futuro, criado por um grupo de amigos jipeiros e mantido por Toninho, gerente de contas do Banco do Brasil, que, em suas horas vagas, encabeça um belíssimo projeto que leva crianças especiais para um passeio na natureza embarcados no Carretroller, um troller com uma carreta acoplada.


O projeto Herdeiros do Futuro visa plantar uma sementinha dentro do coração de criança, para que, no futuro, elas floresçam e nossos herdeiros possam colher o resultado de boas ações. A cada parada do Carretroller, Toninho conscientiza os “navegantes” sobre os problemas ambientais que estamos enfrentando, usando exemplos do próprio local de parada, como o desmatamento, queimadas e lixo. Também é falado sobre a valorização da água como fonte vital, utilizando diversos exemplos rotineiros, como escovar os dentes e tomar banho. Foca na preservação da natureza, mostrando algumas fotos de animais que tiveram problemas devido aos lixos jogados no chão que em algum momento vai parar no habitat natural dos bichinhos.

A cada ano o projeto atende algumas instituições da cidade, este ano, a instituição escolhida foi a ONG Caminhar “Amor pela Vida”, que atende gratuitamente pessoas portadoras de deficiência físicas.

Antes de iniciarem a leitura do relato de viagem, deem o play na música abaixo, que foi apresentada por Toninho e virou a trilha sonora da viagem:

O passeio saiu da sede da Ong Caminhar, onde embarcaram os navegantes Leon de 5 anos, portador de autismo e Cadu (o Comandante) de 7 anos de idade e paralisia cerebral. Ambos são crianças especiais, mas não especiais devido a sua condição física, são especiais devido a sensibilidade e compaixão para com o próximo e a natureza. Desde o momento de partida do Carretroller, ambos não tiraram os olhos da estrada, admirando a natureza e os animais que passaram pelo caminho. Estavam extasiados tamanha felicidade, vibravam com o contato com o novo e, apesar de hiper-ativos, demonstraram uma concentração que surpreendeu os monitores presentes.


A primeira parada foi em uma das estações da Sabesp, onde Toninho explicou e mostrou a importância da água em nossa vida, alertou os navegantes para o desperdício dentro de casa. No mesmo local, o organizador ensinou cada uma das crianças como plantar uma “árvore mágica” – denominação dada por ele mesmo devido a todos os benefícios da árvore – que irá crescer, florescer, fornecer sombra, alimento e purificar o nosso ar. Neste momento meus olhos encheram de água ao me deparar com a alegria que meus novos amigos, Leon e Cadu, exaltavam ao cavar um buraco para colocar a muda de árvore, e depois cobrir novamente o buraco com a terra e rega-la. É aparente que foi, se não o primeiro, um dos primeiros contatos que os meninos tiveram com a natureza, foi um momento onde as limitações físicas pareciam não existir, era pura emoção.


Leon, uma criança muito inteligente e esperta, que não pára um segundo, ficava minutos prestando atenção nas explicações do Toninho, em alguns momentos parecia hipnotizado pelas belezas naturais do percurso. Se demonstrou um grande amante dos animais, vibrava sempre que passávamos por um boi ou uma Seriema.

Leon

Cadu, vestiu a camisa de “Defensores da Natureza” – grito de guerra do projeto – e se prontificou em contar para toda família e amigos tudo que havia aprendido, semeando a mudança nos corações das pessoas de seu convívio.

Cadu

É perceptível que precisamos nos desconectar de nós mesmos para percebermos áquilo que nos rodeia e realmente importa. Desconectando de mim mesmo, me conectei com Leon, Cadu e a natureza, só assim consegui realmente me convencer da importância desse tipo de projeto. É com a ajuda de alguns e a disposição de outros que conseguimos atingir de forma verdadeira a consciência das crianças, plantando uma sementinha para que cresçam adultos melhores do que estamos sendo.

O projeto tem ajuda de algumas empresas, onde fornecem o lanche e suco para cada integrante do passeio, água e mudas de árvore, que é o caso da Macboot, que apoiou o Herdeiros do Futuro com dezenas de mudas para serem plantadas e levar para casa espalhando o conceito “Defensores da Natureza” e “Respeite seu Planeta”, duas grandes frases que fazem parte dessas empresas.

Texto: Rafa Mendes

Fotos por: Rafa Mendes

Leia Mais →

por

Ação dia da árvore

O dia 21 de Setembro é marcado no calendário ambiental brasileiro como o Dia da Árvore, juntamente com o dia mundial da paz, comemorado no mesmo dia do ano.

O dia 21 de Setembro é marcado no calendário ambiental brasileiro como o Dia da Árvore, juntamente com o dia mundial da paz, comemorado no mesmo dia do ano.

O objetivo principal deste dia, é conscientizar a população brasileira a respeito da preservação e conscientização desse bem tão valioso para nossas vidas e nosso planeta. A escolha desse dia devido ao início da primavera no hemisfério sul, que acontece hoje, dia 23 de Setembro.

As árvores são responsáveis pelo aumento da umidade do ar, devido a evapotranspiração, também são responsáveis por evitar erosões, em seu processo de fotossíntese elas produzem oxigênio, além de reduzir a temperatura e fornecer sombra e abrigo para alguns animais. As árvores são uma das nossas maiores e mais importantes riquezas naturais.

Além de tudo isso que foi mencionado acima, ainda existem espécies arbóreas frutíferas, que fornecem alimentos para seres humanos e animais, como é o caso da goiabeira, abacateiro, mangueira, limoeiro, laranjeira, pessegueiro entre dezenas de outros tipos.

Além da produção de alimento, filtragem e oxigenação do ar, as árvores também possuem milhares de aplicações econômicas, como a extração da celulose para fabricação do papel, a madeira, que é a matéria prima de móveis e casas. Diversas espécies ainda possuem aplicabilidade medicinal, atuando na indústria farmacêutica.

Devido às diversas aplicações, parcelas significantes da nossa flora estão sendo desmatadas e até mesmo deixando de existir, por isso, o dia 21 de Setembro é importante para aplicarmos uma reflexão interior, analisando todas nossas atitudes e desperdícios.

Devido a isso, todos os anos a Macboot faz ações em todo Brasil de distribuição de sementes e mudas prontas para o plantio. A ação é apenas simbólica, mas é encarado como uma forma de proporcionar uma mudança de postura e conscientização nas pessoas, afim de que seus atos possam afetar futuras gerações.

Nesta ano foram distribuídas em torno de 500 mudas e 5000 sementes.

Abaixo, segue algumas fotos do que aconteceu em algumas cidades:

 

Leia Mais →

Close Search Window